terça-feira, 24 de julho de 2012

"Batendo as porteiras"

O problema é velho, as discussões também. O problema é crônico para os nordestinos e, para nós, que moramos nessa caatinga bonita e de extensão infinda, o problema é sério. O problema, leitor, é lírico. Sim! Pode chamar, se quiser, de poético.

Ontem à tarde, conversando mais uma vez, com Sr. França, morador do Sítio Vertente da Mala - pai de minha namorada, tornei a dar-me conta da situação difícil do agricultor, vítima (essa designação traz-me dúvidas) fatal da falta de chuvas por longos períodos: a nossa periódica e assídua seca. O problema traz outros, pois como também é criador, e vive disso em parte, na outra parte, da agricultura, falta recursos para alimentar o gado, falta comida para os animais. A égua já foi solta. O gado se alimenta, enquanto está dando, do resíduo de caroço de algodão, comprado a preço um pouco alto.

E, como, passando por uma outra propriedade (cercado), antes da conversa mencionada, vi um cavalo nas últimas, magérrimo, com as ancas quase expostas e as costelas, cobertas apenas pelo couro, entendi mais profundamente, e poeticamente, o problema. O cercado era muito pequeno e de comida só tinha salsa, mas salsa os animais não podem comer, causa-lhes náuseas e podem levá-los à morte (as razões biológicas, não as entendo de muito). Ademais, areia. Só areia, terra muito quente que o coitado pisava.

Acho que o dono deveria pelo menos soltá-lo, ou, na expressão do meu sogro, "bater a porteira" e deixar que o último animal que dê com a cancela aberta, saia à procura de raíses secas e sacos plásticos.

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