quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O peso do humano

Agorinha, pela manhã, escutei, até um certo ponto, atento, o relato de uma minha vizinha, dona de casa, que iniciou o monólogo dizendo: "Não tem quem diga que eu já tenho 72 anos". E não tem mesmo! Sou, por hábito, observador dos comportamentos e, detalhadamente, retiro dessas situações práticas, algumas reflexões chochas, mas que me obrigam a usá-las em algum instante e, de tão presentes, constantes, considero-as companheiras. E aqui, agora, uso uma.

Aquela senhora, de fato, não aparenta ter suas sete décadas e seus dois anos. Sabia que ela era um tanto sofrida, os dias lhes foram cruéis e as horas lhe revelam ruínas, mas de cara, não tem aquela idade avançada. Saia comprida, rasgada aqui ali por bicadas de patos (isso ela dizia), lutara todos esses anos para criar muitos filhos e dar conta de um domicílio que lhe tirara a limpeza dos pés e a graciosidade das mãos. Disse que tem aguentado muitas cargas, sofrimentos, dores... 

Começara a "sobreviver", trabalhar nessa rotina doméstica aos doze anos de idade. Sua mãe a abandonara ainda muito nova; casara-se e tivera, não me lembro bem, mas por volta de quinze filhos. Nove morreram. Criou os demais com extrema dificuldade e agora os vê crescidos, mas, quase todos ainda dependentes dela. Sofre por ter um filho alcoólatra e pelas constantes desavenças dentro de casa.

Minha mãe admirou-se por vê-la ainda conscientemente sã e fisicamente pouco abatida. Ao final do seu relato, aquela senhora revelou no semblante a vontade de lutar ainda mais pela sua casa e seus filhos; percebi-lhe, com seu gesto de mãos na cintura e leve arquear da cabeça, que tem, de verdade, muitas forças ainda, ilimitadas forças, que morrerão quando "a última par de areia lhe for jogada na face!"

Creio que a verdadeira face da vida, ali me foi mostrada e que a morte, além de apagar nossas ações nos faz apreciar a vida!

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