sábado, 11 de agosto de 2012

Poema

Epifanias
Francisco Gesival Gurgel de Sales

A leitura me roubou a paz,
Misturou meus sentidos.
Deixou-me inquieto.

Roubou minhas manhãs, minhas tardes

Furtou minhas noites e quase as madrugadas.
Me fez pensar que sou errante
Fez-me contraditório
Fez-me pensar em coisas fúteis,
Refletir sobre nada.

Fez-me revirar o passado,

Me fez escrupuloso ao presente,
Revelou-me as intermitências do dia e o negrume da noite
E a inexistência do futuro.

Numa dispensa velha

Jogou quase todas as minhas festas,
Minhas cachaças e meu futebol.
Só não a minha namorada,
Mas já anda transcendendo o meu tempo dela.

Me disse que pouco sei

Apresentou-me Machado de Assis
E as correntes estruturalistas.
Me fez filósofo,
Me fez poeta
Fez-me escravo
E trocar de lugares os pronomes.

A leitura deixou-me louco, viajante, doente.

Furtou-me os poucos conceitos que tinha
Me fez criticar as instituições
E as falas dos amigos
Deixou-me chato e hesitante.

Modificou minha sintaxe

Baralhou minhas ideias
Relacionou-as...
Refutou minhas planilhas
Renovou os meus vocábulos

Mostrou-me de quantos eus sou feito

Legou-me considerações acerca de mim
Acerca de Deus e do mundo
Disse que sou finito
Mas provou, por a + b,
Que sou alguma coisa semântica

Que boio no mundo,

Que tenho sonhos.
Que minhas células, na verdade, na verdade,
São signos
Meu sangue, frases cognitivas
Meu corpo, um período composto
Em análise.

2 comentários:

  1. Vc é simplesmente espetacular meu amigo,Parabéns Sucesso!! Marlon Morais

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  2. Obrigado, meu amigo! vc é que tem capacidades extraordinária!

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