terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sem palavras. Ou com muitas?

Estou, por hora, e mais uma vez, sem palavras. Ou como expus à título, com muitas. O ponto de interrogação inicial revela, óbvio, uma dúvida móvel, talvez temporária, talvez perpétua. Não sei, e o foco principal desta postagem não é tão somente este. Já que estou dúbio, e por hora, redigo, não escrevo, dou-lhes, de generoso esta passagem de O Quinze, de Rachel de Queiroz. Cascavilhando documentos, encontrei-a e lhes ofereço. Não espere dela, as maravilhas do mundo, as tantas surpresas. É sim, um trecho, para uns, emocionante, para outros, chato, para outros, outras coisas. E eis:

"Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar.
Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse.
Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha...
Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida.
Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas.
Chico Bento, na confiança do seu sonho, procurou animá-la, contando-lhe os mil casos de retirantes enriquecidos no Norte.
A voz lenta e cansada vibrava, erguia-se, parecia outra, abarcando projetos e ambições. E a imaginação esperançosa aplanava as estradas difíceis, esquecia saudades, fome e angústias, penetrava na sombra verde do Amazonas, vencia a natureza bruta, dominava as feras e as visagens, fazia dele rico e vencedor.
"

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